quarta-feira, 22 de julho de 2020

QUARTO DE DESPEJO – DIÁRIO DE UMA FAVELADA




“A favela é o quarto de despejo de uma cidade.”


Eu precisei de uns 20 anos para estar pronta para esse livro. Ele dói. Dói porque é uma história real. Dói porque mesmo 60 anos após o seu lançamento, permanece brutalmente atual.

Minha mãe tinha esse livro, mas já estava bem surrado por ser uma edição antiga. Na adolescência eu me lembro de ter folheado e lido algumas passagens aleatórias, mas na época não foi o suficiente para me prender. No início desse ano um podcast que eu acompanho indicou a leitura e eu resolvi que havia chegado a hora. Para minha surpresa, não encontrei uma versão digital (a maioria das minhas leituras é no Kindle), então acabei comprando o livro físico na Amazon.

Comecei essa leitura bem no início da pandemia, o que pode não ser exatamente o momento ideal, mas acho que serviu para que eu me sentisse grata por absolutamente tudo que tenho. O mais difícil, com certeza, foi passar pelos relatos de fome, uma coisa totalmente fora da minha realidade e, provavelmente, da sua também.

Carolina Maria vive numa favela em São Paulo, nas margens do Rio Tietê, com seus 3 filhos. Em seu diário ela conta 4 anos de seu cotidiano que envolve dificuldades, humilhações e, principalmente, a batalha para conseguir comida para os seus filhos, o que nem sempre era possível.
Pela narrativa percebemos que Carolina, mesmo com toda a miséria com a qual precisa conviver, é uma pessoa instruída, gosta de música e leitura. Pelos seus olhos vemos os políticos que visitavam o local somente em busca de votos, as brigas entre os vizinhos, a luta para manter os filhos longe do crime e a fome como sombra eterna.

“Fiquei nervosa ouvindo a mulher lamentar-se porque é duro a gente vir ao mundo e não poder nem comer. Pelo que observo, Deus é o rei dos sabios. Ele pois os homens e os animais no mundo. Mas os animais quem os alimenta é a Natureza porque se os animais fosse alimentados igual aos homens, havia de sofrer muito. Eu penso isto, porque quando eu não tenho nada para comer, invejo os animais

Tudo que Carolina queria era sair da favela. Além das condições precárias, ela não gostava da maioria das pessoas que lá viviam, dizia que a favela corrompia as pessoas.

Carolina foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, que a conheceu quando foi fazer uma reportagem sobre a Favela do Canindé e descobriu que ela tinha um diário. Ao perceber a força do conteúdo, levou a um editor.

O editor foi fiel à linguagem utilizada por ela, por isso nem sempre a ortografia está correta. Foi uma escolha acertada, dá força ao relato e mostra toda a sabedoria de uma mulher que não teve a chance de passar pela educação formal.

Após o lançamento do seu tão sonhado livro, Carolina Maria não venceu a pobreza, mas ao menos realizou o sonho de sair da favela.

“O que eu sempre invejei nos livros foi o nome do autor. E li meu nome na capa do livro. ‘Carolina Maria de Jesus’. Diário de uma favelada. Quarto de Despejo. Fiquei emocionada. É preciso gostar de livros para sentir o que eu senti.”

Quarto de Despejo é um soco no estômago. Mas é o soco que precisamos. É o choque de realidade para entendermos que há muito mais em nossa sociedade do que a vista alcança.


Conta pra gente qual foi o livro que te deixou com essa sensação.



quinta-feira, 16 de julho de 2020

Como o Harry Potter me acompanhou pela vida



Me lembro como se fosse ontem. Eu estudava em uma escola pública com uma biblioteca fantástica (tinha até “A Casa dos Budas Ditosos”, mas isso é assunto para outro post) e foi lá que eu o vi pela primeira vez, um menino de óculos montado em uma vassoura. Achei a capa atrativa e peguei emprestado. Como na época eu era uma jovem com pouquíssimas obrigações, chegando em casa eu já corri para ler.

Foi amor à primeira vista, eu entrei em um mundo do qual nunca mais consegui sair... e nem quero.
Se você passou os últimos 20 anos em uma caverna, eu vou fazer um breve resumo do universo de HP.

HARRY POTTER E A PEDRA FILOSOFAL – aos 11 anos, Harry descobre que é um bruxo e que irá para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts e deixará, pelo menos pelo período das aulas, a companhia nada agradável dos seus tios e seu primo. Pela primeira vez ele tem amigos, Rony e Hermione, que serão seus companheiros inseparáveis de jornada. Ele também descobre as reais circunstâncias da morte de seus pais e que a comunidade bruxa tem um grande inimigo.

HARRY POTTER E A CÂMARA SECRETA – no seu segundo ano em Hogwarts, a Câmara Secreta é aberta e todos correm um grande perigo. Vários colegas são atacados e a possibilidade de Harry ser o herdeiro de Salazar Slytherin é levantada.

HARRY POTTER E O PRISIONEIRO DE AZKABAN – Azkaban é a prisão dos bruxos, guardada por dementadores e de onde ninguém, teoricamente, consegue fugir. Mas alguém conseguiu, ninguém menos que Sirius Black, acusado de matar dezenas de pessoas e entregar os pais de Harry, de quem é padrinho, para Lord Voldemort.

HARRY POTTER E O CÁLICE DE FOGO – somos apresentados ao Torneio Tribruxo, onde três escolas de magia (tava achando que só tinha Hogwarts???) indicam seus melhores alunos maiores de idade para que somente um de cada seja escolhido pelo Cálice de Fogo para participar da competição. Harry pensou que teria um ano tranquilo em Hogwarts, mas isso mudou quando o nome dele foi escolhido pelo Cálice como o quarto campeão do Torneio, o que deveria ser impossível de acontecer. A história termina com o maior temor do mundo bruxo se tornando realidade, e Harry é a única testemunha.

HARRY POTTER E A ORDEM DA FÊNIX – com a escola dividida entre os que acreditam em Harry e os que acham que ele está inventando, os alunos são apresentados a Dolores Umbrige, nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas que se torna o maior pesadelo de todos (ou quase). Quando a matéria mais importante é lecionada de maneira insuficiente por Umbrige, Hermione convence Harry a ensinar Defesa Contra a Artes das Trevas para alguns colegas. Os dois maiores nomes do mundo bruxo se enfrentam em uma batalha épica.

HARRY POTTER E O ENIGMA DO PRÍNCIPE – Harry se une à Dumbledore na busca de uma forma de derrotar Voldemort. Durante as aulas, Harry descobre o livro de Poções do Príncipe Mestiço, que passa a ser seu maior aliado durante as aulas. Ganhamos um novo casal para amar e temos uma grande tristeza no final.

HARRY POTTER E AS RELÍQUIAS DA MORTE – Harry, Rony e Hermione não voltam para Hogwarts e partem para uma caçada às Horcruxes, fragmentos da alma de Voldemort que impedem que ele seja definitivamente destruído. Temos a Batalha de Hogwarts e Harry e Voldemort se enfrentando pela última vez.

Nada do que eu disse acima é suficiente para explicar a grandeza emocional da saga. Ela começa como uma história infanto juvenil e vai amadurecendo ganhando nuances por vezes sombrias. Os leitores que têm por volta de 30 anos, como eu, cresceram junto com o Harry e certamente viveram dilemas emocionais parecidos com os dos personagens (só que sem um bruxo das trevas para derrotar, hehe).

O Harry me acompanhou por diversas fases da vida.

Eu li o primeiro episódio no Ensino Fundamental e no lançamento do último livro já estava na faculdade. Depois disso eu reli a saga inteira em diversos momentos da minha vida (umas 10 vezes, talvez), geralmente quando eu estava muito ansiosa por coisas que estavam acontecendo na vida real e precisava de uma válvula de escape, algo que me tirasse da realidade com a tranquilidade de já saber como vai terminar. Algumas delas:
  • Quando eu estava para casar;
  • Quando eu estava grávida (quer ansiedade maior que essa???)
  • Quando estava estudando inglês (ganhei o box no idioma original, puro amor)
  • Ano passado, mas se eu soubesse teria guardado para ler em 2020...
Eu assisti os filmes também. Gosto deles, mas com certeza não têm a mesma profundidade do livro. Pra mim, eles servem para dar um rosto aos personagens, mas não acredito que eu seria tão ligada à história somente com eles.

Você também pode saber mais sobre Harry Potter no site Wizarding World, antigo Pottermore.

Eu acho que livros são isso, artifícios que usamos para viver outras vidas além da nossa

Conforme o tempo passa e as obrigações da vida adulta aumentam, vai ficando mais difícil arrumarmos tempo para ler, mas eu sempre tento achar um tempinho, mesmo que seja só no café da manhã, para ler alguma coisa. Estou sempre lendo algum livro, essa curiosidade do que vem a seguir me motiva a não parar e exercita a minha criatividade.

Apenas lendo vários você vai descobrir qual é A história da sua vida.

Como diria Alvo Dumbledore, palavras são nossa inesgotável fonte de magia.

E você? Tem algum livro que marcou a sua vida e te acompanha até agora?